No sopé do Monte Bastione um vento gelado já prenunciava os rigores do inverno que vinha chegando. Era um sábado que traria a Vitória para a democracia. Uma pesada barragem de fogo contra as tropas alemãs iniciou a resposta às agressões sofridas pelo Brasil, com a perda de mais de mil vidas nos torpedeamentos.
Decorridos 65 anos, quatro dos quarenta oficiais do 2°. Grupo de Obuses 105 da FEB ainda estão entre nós. Apenas 2 puderam comparecer, o Tenente-Coronel MARIO RAPHAEL VANUTELLI veio especialmente de Brasília para a comemoração, encontrando um amigo de longa data, o Major Marcos Galper, quase um irmão, apos incríveis 80 anos de convivência.
Outros Veteranos como o Coronel Salli Szajnferber, que participou da operação que culminou na captura da 148ª. Divisão de Infantaria alemã, e da Divisão Bersaglieri Itália, fazendo mais de 20 mil prisioneiros, inclusive 2 generais, Otto Freter Pico e Mario Carloni; Tenente da Marinha Melchisedech Affonso de Carvalho, era um jovem marinheiro, navegando em comboios protegendo os navios do Loide, Tenente Candinho, do Sampaio, Major Elza, Enfermeira da FEB, Veterano Oscar, e mas alguns poucos.
A reunião aconteceu no Grupo Monte Bastione - 21°. Grupo de Artilharia de Campanha, aquartelado no Forte Barão do Rio Brando em Jurujuba, Niterói, sucessor do 2°. GO 105 FEBiano, por sua vez herdeiro de uma das nossas mais antigas e tradicionais unidades, o Corpo de Artilharia do Rio de Janeiro, criado por Carta Régia de Dom João V em 1736, para guarnecer as fortalezas que defendiam a Baia da Guanabara.
O ponto alto do evento foi a reconstituição do Primeiro Tiro por uma guarnição usando fardas da época, e que exatamente as 14h 22min executou o disparo com a mesma peça de 105 mm original, ainda tracionada pela mesma viatura histórica GMC modelo 1942.
Em seguida a tropa desfilou diante do palanque onde estavam altas autoridades militares. A frente vinha o contingente de Veteranos, todos com mais de 80 anos, comandado pelo Tenente Dalvaro Oliveira, sobrevivente de 2 naufrágios com intervalo de 6 horas.
Logo em seguida vinham o Major Marcos Galper e a Major Enfermeira Elza Cansanção Medeiros, que utilizaram cadeira de rodas.
O Major Galper foi conduzido pelo seu filho Marcio, também ex-aluno do CPOR/RJ, da Turma de 1976 de Artilharia, 35 anos depois que seu pai concluiu o mesmo curso no antigo CPOR de São Cristóvão, ao lado da Quinta da Boa Vista, em 1942. Marcio reencontrou no palanque seu antigo comandante na Fortaleza de São João, Cel Renato Ribeiro da Silva.
Em plena Segunda Guerra Mundial, as elites estudantis de colégios como o Pedro II e de faculdades como a Escola Polytechnica tinham orgulho patriótico em cursar o CPOR. Galper e Vanuttelli eram vizinhos nas ruas Paissandu e Ipiranga, cursaram o Pedro II e o CPOR/RJ.
Há 55 anos o Dr Akerman salvou Vanuttelli da febre das trincheiras. Hoje, aos 91 anos pronunciou com voz firme os mesmos comandos passados via radio da Central de Tiro para a peça diretriz, há 65 anos:
“ Bateria, Atenção, Concentração !!! “ “ Explosiva Carga 5 Espoleta Instantânea ! “ “ Centro por um bateria por meia dúzia ! “ “ Deriva 2800 elevação 357 ! “ “ Fogo !!! “
Exatos 14h 22min. A fumaça branca se dispersa levada pelo vento da baia. A tropa se prepara para o desfile.
Os velhos artilheiros pensam nos irmãos de armas não mais aqui presentes, e aqueles que não voltaram. Não existe consolo, mas suas almas se elevaram pela certeza de que um mundo melhor passaria a existir.
A solenidade terminou. Os Veteranos retornam para casa, a esperança de no próximo ano estarem juntos mais uma vez.
Confira as fotos do Evento:
1 comentários:
bem legal hein?
bjs
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