Deu menos repercussão do que seria de esperar — pelo menos até aqui — a notícia do acordo militar pelo qual os Estados Unidos terão direito a utilizar quatro bases em território da Colômbia, vizinho com o qual o Brasil compartilha 1.600km de fronteira amazônica. A localização das instalações é — como seria também de esperar — precisa do ponto de vista estratégico: uma delas está no litoral do Caribe, outra no Pacífico e duas no centro do país. O timing também é exato: no ano que vem, é possível que deixe o palácio, em Bogotá, o presidente Álvaro Uribe, a menos que prospere a emenda constitucional para permitir-lhe disputar o terceiro mandato.
Com Uribe, a Colômbia foi aliada preferencial dos EUA na América Latina, do ponto de vista militar, durante o governo Bush. Obama promete outra política externa, mas jamais desprezaria oportunidade tão conveniente para substituir a base aeronaval de Manta, no Equador, de onde os americanos se retiram em setembro, embora as operações estejam encerradas desde ontem — a cessão (por 10 anos) venceu e não foi renovada pelo governo de Rafael Correa, aliado de Hugo Chávez.
O presidente venezuelano, por sinal, é outro que torce o nariz para o movimento de tropas gringas na casa ao lado. Em especial na base de Apiay, logo ao lado de Bogotá e a caminho das planícies orientais que levam à fronteira venezuelana, na bacia do Rio Orinoco.
Chávez anda comprando aviões, helicópteros, sistemas de defesa antiaérea e naval da Rússia. Já promoveu manobras aeronavais conjuntas no Caribe, marcando o retorno dos russos à região depois da Guerra Fria. E ofereceu a Moscou o compartilhamento de bases em território venezuelano.
Plano Colômbia: os gringos entram com as armas, nós fornecemos os mortos
Outdoor exposto em 2000 em San Vicente del Caguán, no sul da Colômbia. Na época, a cidade foi sede do fracassado processo de paz entre o governo do presidente Andrés Pastrana e a guerrilha das Farc.
Na moita
Nos últimos meses, a coluna ouviu manifestações insistentes de inquietação e interesse de diplomatas da região sobre a localização das bases colombianas onde os americanos se instalariam. Uma das opções que chegaram a ser mencionadas era a cidade de Letícia, no extremo sul, vizinha geminada à brasileira Tabatinga (AM).
Mas, não muito longe da fronteira, os americanos já operam, sem muito alarde, em duas outras bases colombianas que foram equipadas pelos EUA com sofisticados radares. Larandia e Tres Esquinas (foto), ambas no departamento de Caquetá, são sedes de batalhões que formam a primeira Brigada Antinarcóticos treinada por instrutores americanos, no âmbito do Plano Colômbia.
Em meados de 2000, quando o Congresso dos EUA ainda discutia os termos do plano, os gringos já estavam por lá. Em uma das primeiras visitas feitas pela imprensa estrangeira a Tres Esquinas, um oficial americano estava ao lado do comandante da base para receber-nos na pista. Conversou discretamente com assessores do então presidente colombiano, Andrés Pastrana, e esgueirou-se para um pavilhão à parte do quartel.
O general Mario Montoya, que chefiava Tres Esquinas e depois tornou-se comandante do Exército — caiu no ano passado, sob suspeita de ter cooperado com esquadrões paramilitares que combatem a guerrilha à margem do Estado —, só não topou falar aos jornalistas sobre os “hóspedes” do norte…
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