A aquisição de mísseis Tomahawk pelas autoridades espanholas começou a ser negociada ainda antes do actual primeiro-ministro Zapatero ter chegado ao poder, e resultou de várias diligências feitas tanto junto do Pentágono como junto do Departamento de Estado.
Os mísseis deveriam ser instalados a bordo de navios da classe Álvaro de Bazan, fragatas de defesa aérea de projecto e concepção derivado de planos norte-americanos, que se adaptavam à utilização daquele sistema.
Além da instalação a bordo dos navios dessa classe, também estava prevista a utilização do Tomahawk a bordo dos futuros submarinos espanhóis da classe S-80, que ainda se encontram em desenvolvimento. Com um alcance que em algumas versões pode atingir os 1.600km os mísseis Tomahawk para a Espanha estavam no entanto limitados a um alcance máximo de 300km, por causa das restrições internacionais à venda de armamentos que podem ser considerados estratégicos.
Mas mesmo assim eles poderiam atingir qualquer país vizinho da Espanha e as autoridades espanholas não fazem grande segredo de que os sistemas poderiam ser utilizados como retaliação, no caso de a soberania espanhola sobre as cidades de Ceuta e Melilha, ou sobre as Canárias, ser de alguma forma colocada em causa.
Na verdade, o Tomahawk era acime de tudo um simbolo das relações entre a Espanha e os Estados Unidos. Os novos mísseis europeus, com capacidades inferiores aos norte-americanos, mas com alcance superior ao limite de 300km, podem acabar por ser mais vantajosos, ainda mais quando a Espanha não está limitada a tratados sobre a compra e venda do equipamento, por participar no seu desenvolvimento.
O estreitamento de relações entre a Espanha e os Estados Unidos, atingiu o seu ponto alto, durante o governo de José Maria Aznar, que tinha por ministro dos negócios estrangeiros o catalão Josep Piqué. Segundo declarações do próprio Piqué, ele próprio tinha discutido com o então secretário de estado norte-americano, Collin Powel o estreitamento das relações entre os dois países, afirmando que pretendia que a Espanha tivesse uma relação especial com os Estados Unidos, ao que o Powell respondeu que «não vejo qualquer razão para que isso não aconteça».
Desde essa altura, o governo de José Maria Aznar conduziu a sua politica externa de forma a alinhar a Espanha com os Estados Unidos tanto quanto possível. A autorização para a venda dos mísseis Tomahawk, que deveriam equipar navios espanhóis, elevaria a Espanha ao nível de único país da Europa, juntamente com a Grã Bretanha a operar aquele tipo de míssil de Cruzeiro.
Se o símbolo dessa tentativa de aproximação entre Washington e Madrid, do lado norte-americano, era a autorização de venda de uma arma como o Tomahawk, do lado espanhol esse símbolo assumiu a figura da presença norte-americana no Iraque, e o total alinhamento da Espanha com as posições de Washington.
Esse alinhamento e o pedido de Josep Piqué para que a Espanha recebesse um tratamento idêntico ao da Grã Bretanha ficou igualmente expresso na cimeira dos Açores em 2003, em que os Estados Unidos apareceram ladeados pela Espanha e pela Grã Bretanha, numa cerimónia que ficou igualmente conhecida pela ligação com Portugal, país que apareceu indirectamente ligado ao acontecimento.
Na ocasião, o dirigente espanhol José Maria Aznar, teve oportunidade para frisar que a reunião dos Açores reafirmava o estabelecimento de laços de primeira importância entre Washington e Madrid, quando agradeceu ao então primeiro ministro português Durão Barroso, a cessão das instalações da base aérea das Lages para a realização do encontro.
Relação destruída à bomba
A relação especial entre os Estados Unidos e a Espanha, vista por muitos sectores em Madrid como completamente contra-natura, sofreu no entanto um devastador revés, quando a 11 de Março de 2004, menos de um ano após a chegada das forças norte-americanas a Bagdad um ataque terrorista islâmico matou quase 200 pessoas em Madrid, numa sequência de explosões, cuja meticulosidade e organização transportava a marca da Alqaeda.
O atentado bombista e a tentativa do governo espanhol de transferir a responsabilidade do atentado para o movimento separatista ETA, acabaram por conduzir à queda do partido do governo, e à saída do poder dos sectores favoráveis a um alinhamento com Washington.
Piora brusca nas relações entre Washington e Madrid
A extemporânea retirada das forças espanholas do Iraque, caiu como uma bomba em Washington, onde a atitude do novo dirigente espanhol Rodriguez Zapatero caiu como uma bomba e onde foi chamada praticamente de «acto de traição». Foi nessa altura que, considerando ser óbvio que o novo governo espanhol não estava interessado no prosseguimento da sua política de alinhamento com Washington, o cancelamento da venda dos Tomahawk à Espanha chegou a ser considerado como forma de retaliação.
No entanto, os esforços diplomáticos para melhorar as relações entre os dois países acabaram por levar a que a venda fosse confirmada em 2005.
Opção europeia
Além das questões entre Washington e Madrid, e da dificuldade tradicional que os governos de esquerda espanhóis têm para se relacionarem com os norte-americanos [1] a crise financeira e económica em que a Espanha se encontra mergulhada também está na origem do cancelamento.
Além disso a Espanha aparece como um dos impulsionadores de sistemas de origem europeia que não tendo as mesmas características, conseguem mesmo assim desempenhar a mesma função.
Espanha x EUA estendendo uma relação de altos e baixos!
O cancelamento da aquisição dos Tomahawk, transformara-se acima de tudo numa compra simbólica destinada a coroar uma visão estratégica sobre a relação entre os Estados Unidos e a Espanha e tinha deixado assim de fazer grande sentido. No entanto, as relações normais entre os dois países não sofrerão qualquer revés. A ministra espanhola da defesa afirmou que as bases norte-americanas em Espanha continuarão a operar normalmente, devendo o acordo de operação ser prorrogado.
Fonte: Area Militar.
0 comentários:
Postar um comentário